Sound, Movement & Empire: Página 33 e 34

Com a saída de Kealey, o grupo poderia facilmente ter desanimado, mas havia um crescente interesse em mais músicas interessantes e possibilidades tecnológicas, sendo uma delas um loop de bateria em uma fita DAT que poderia servir tão bem como um humano para a música que a banda estava criando (pelo menos por agora). Com Serge trazendo os trocados de seu trabalho com a Allied Domecq {Companhia inglesa que produzia bebidas alcoólicas e operava cadeias de fast food}, trabalhando no armazém, e Tom Meighan lucrativamente empregado pelo Dr. Martens, o grupo também foi capaz de ter mais do que algumas grandes noites para celebrar a vida e liberdade em todas as suas facetas, ouvindo Primal Scream e assistindo Spaghetti Westerns de Sergio Leone, incluindo a trilogia Fistful Of Dollars. A nova música vinha intensa e rápida, mas desta vez o engenhoso Pizzorno e o imaginativo Karloff descobriram um interesse em colidir a estrutura acústica com a sequência eletrônica, acrescentando efeitos e mexendo em tudo. As possibilidades eram realmente infinitas, e embora a banda não gravasse mais no Bedrock, o PC estava sempre pronto para receber os esboços e ideias em qualquer momento do dia ou da noite.

Neil Ridley era músico naquela área no final dos anos 90 e nos primeiros anos do novo milênio, e recorda que a Saracuse nesse ponto tomou a decisão de que possivelmente a incubação das suas ideias fora da sua cidade natal era uma via que valia a exploração, experiência de vida pelo menos.

“Senti neles que eles não queriam ser aquela banda que só estourou localmente, [ou somente] aproveitar o fato que eles eram caras locais, entende?” ele explicou em uma entrevista para este livro. “Para eles isso não era importante. O que era importante para eles era fazer o que eles queriam fazer. Isso soava bem diferente.” Não sem alguma crença na sua própria capacidade, também, de qualquer modo. Página 33

“Eles estavam abrindo para as bandas que vinham para a cidade e nós íamos junto. Me lembro do Tom, no meio do público assistindo, reclamando dessas bandas dizendo ‘Vocês são uns merdas!’ e logo sabendo que ele tinha aquela confiança que os líderes raramente tem.” {Ben Cole relembra: Tom veio até mim,” ri o jornalista. “Não sei por que mas ele veio para me dizer o quão merda era a banda que eles estavam abrindo, então dois de nós fomos pra cima deles e os criticamos. Basicamente eles pareciam com uma banda que fazia covers de Cast, eles eram de Liverpool e isso ficou claro. Na época, eu era um jornalista preguiçoso e péssimo e se eu não gostasse de algo eu simplesmente falava muito mal. Acho que Tom e a banda gostavam disto, era tudo parte da provocação.”}

Com o foco firmemente fora de Leicester por enquanto, a banda esteve muitas vezes se não sempre em Londres, onde seus empresários ficavam. Enquanto lá, eles de vez em quando conversavam com um determinado proprietário de uma loja de música que às vezes lhes emprestaria partes do equipamento para os shows e assim por diante, e a relação expandiu-se até a discussão do dilema do estúdio. O proprietário da loja imediatamente levantou uma sobrancelha, chamou os rapazes em particular e contou sobre um estúdio que era bem falado nos círculos do rock. Se a atenção da Saracuse cresceu em cima disso, o fator decisivo foi que ninguém menos do que Noel Gallagher era conhecido por falar muito bem de lá e muitas vezes ele mesmo ia lá para deixar suas faixas demo. A localização? Bristol. Eles fizeram uma nota mental disso para uso futuro e posteriormente voltaram a fazer o que faziam de melhor, que era explorar os redemoinhos infinitos e o esplendor da música em todas as suas incontáveis formas.

“Nos primeiros dias,” Neil Ridley continuou, “[Eu acho que] eram Serge e Chris Pratt que realmente formavam os sons. Serge é um pouco mais estudioso, acho, uma das coisas que ele sempre teve é a capacidade de traduzir ideias realmente bem. Eu conhecia Chris melhor do que os outros caras no momento, compartilhamos uma espécie de tio ou segundo tio com parentesco distante em algum lugar, enfim, ele vinha até mim e falávamos sobre Korg MS-20s {um sintetizador monofônico semi-modular lançado pela Korg em 1978 e produzido até 1983} e teclados análogos e todo esse tipo de coisa. Era óbvio que ele tinha um verdadeiro amor por fazer algo diferente; ele era particularmente interessado em trilhas sonoras análogas de filmes vintage. Muitas vezes brincávamos sobre Wendy Carlos que costumava ser Walter Carlos, o cara que escreveu a trilha sonora de Laranja Mecânica. Coisas assim. Tinha sempre uma piada sobre as trilhas sonoras sintetizadas que eram usadas antigamente, e pensávamos que elas eram tão contemporâneas na época como eram agora.” Página 34