Sound, Movement & Empire: Página 35, 36 e 37

As conversas de Chris Pratt/Karloff e Ridley ficavam quase mágicas em alguns momentos, com largas influências que penetravam em algumas áreas muito interessantes de alguns artistas concretos de música mais seminais e pioneiros das fitas de loop que tinham trabalhado nos alcances inferiores da música e da manipulação de áudio durante os anos.

“Nós falávamos sobre a BBC Radiophonic Workshop [famosa pela música-tema de Dr. Who] e como eles costumavam, sem qualquer uso de tecnologia moderna, criar e moldar essas coisas maravilhosas a partir de sons diários; havia o sentimento de realmente passar dos limites, e certamente cruzar os limites da tecnologia. Isso tomava uma grande quantidade de tempo e habilidade, eles tinham que passar anos juntando essas coisas. E era mais ou menos dessa forma que ele queria fazer. A primeira coisa que me chamou atenção foi que ele tinha aquele desejo de criar algo diferente e não pensar o mesmo que outras bandas, certamente.”

Tanto que Karloff, enquanto não estava com a Saracuse, era facilmente encontrado perdendo tempo em uma banda com seu irmão, Jim, maravilhosamente apelidada de More Monkey Than Man, como relembra Ben Cole.

“Basicamente eles levavam os computadores ao limite e os forçavam ao máximo para ver que tipos de sons sairia, essas coisas! Eu tinha adquirido dos meus então-empregadores alguns velhos e engraçados teclados e um era um Suzuki Omnichord portanto eu disse ao Chris, ‘Toma, vê o que você pode fazer com isso.’ Eu já estava usando há um tempo e tinha dois então lhe dei um, acho que lhe dei um Bentley Rhythm Ace [vintage drum machine] {Instrumento musical eletrônico projetado para imitar o som de bateria ou outros instrumentos de percussão} também.” Mais duas partes de equipamentos para ligar ao PC em Fosse Lane, e dois aparelhos para brincar. Luzes piscando! Botões! Me pergunto o que aconteceria se eu apertasse isso…

O grupo, como indivíduos, tinha crescido com os espectros gêmeos da cena grunge como era conduzida pelo introspectivo Kurt Cobain do Nirvana, e a cena rave de delírio anticonformista do fim dos Anos 80. Acrescente na mistura a atitude do Oasis, mais um pouco da batida eletrônica suja do Primal Scream, enquadre tudo isso com as técnicas concretas de música mais experimentais e místicas da BBC Radiophonic Workshop e o niilismo do Movimento Futurista Italiano, e você está bem perto do que girava em torno do ar criativo quando a Saracuse começou a se moldar a algo mais inteiro.

“Quando começamos, queríamos ser como Lennon e McCartney,” Serge explicou mais tarde ao entrevistador Matt Cartmell. “E logo você vai fundo e cada vez mais fundo nisso e percebe que isso não ajuda ninguém porque já foi feito, então pegamos um computador e começamos nós mesmos a fazer tudo. Criando batidas e [assim por diante]. O mais profundo que nós íamos ouvindo o vasto montante de música quando começamos, foi, havia algumas bandas que você ouvia, e conforme você vai se aprofundando, mais um monte de bandas surgem e você fica: ‘puta merda, isso é muito bom’. E você sabe, como uma árvore, continua se fragmentando. Mas era só para fazer uma boa melodia e logo fazê-la interessante. Como nos Anos 60, por exemplo [a música dos Beatles] ‘Tomorrow Never Knows’ é uma puta música. Então tudo que é construído em volta disso [no arranjo e no contexto musical] o faz soar diferente e novo.” Página 35

A cena rave girava em torno de um desejo coletivo de continuar a festa fora das horas, eventos e espaços públicos designados pelo Estado durante a segunda metade dos Anos 80. É difícil imaginar isso agora, mas houve um tempo em que o ponto alto da rebeldia era usar uma camiseta fluorescente com uma carinha sorridente e ir em bandos até locais secretos no meio da noite para dançar até o amanhecer, o pote de Vick Vaporub {Pomada para desobstruir o nariz trancado} no bolso de trás para uma ajuda às 5h30 da manhã. Foi realmente um momento muito estranho, o governo correndo com medo, os tablóides e jornais estavam cheios de histórias de terror que, essencialmente, se resumia ao fato de que Drogas São Ruins, Ok?. Trágico como alguns desses contos terríveis sem dúvida foram, era e é uma tragédia contínua que a subsequente lei da Justiça Criminal foi criada, efetivamente tornando as reuniões improvisadas de indivíduos da mesma opinião, ilegal. Foram tomadas medidas, é claro, e muito sensatamente também para tentar educar as gerações mais jovens sobre a forma de reconhecer certas substâncias caso os oferecessem, como Serge lembrou.

“[Nós estávamos] muito cientes [sobre as drogas]. Policiais vinham com suas caixas abertas, tipo com um plástico cobrindo o topo com todas as drogas dentro: ‘Não toque nisso’, e você sabia, você já tinha visto… Nós andávamos pela escola com essas camisetas com uma porra de ‘Só adicione L.S.D.’ e ‘E Tops’ [escritas nelas], sem saber o que totalmente significava. Mas você sabia que isso era ruim então você fazia.” Uma resposta muito familiar, e bastante inevitável. Todo mundo certamente deve saber que a melhor maneira de induzir um adolescente a fazer alguma coisa, é proibi-lo. O Governo estava fora disso, é claro. Mas o grupo foi atraído em direção ao elemento proibido da cena, mesmo que eles não entendessem o que exatamente todas essas implicações poderiam ser.  Página 36

“[Embora] nós preferíssemos o futebol, fomos mais frequentadores de festas,” continuou Serge. “Éramos muito jovens para ir [às raves], mas preferíamos [essa cena do que a cena grunge]. Era um bocado mais perigoso, você sabe. Era tipo, você não podia comprá-lo na HMV e você nunca o veria na televisão, portanto você teria de emprestar fitas de colegas e logo as crianças mais velhas que vadiavam pelos parques ou sei lá, lhe dariam essas malditas fitas. Sabíamos que todos eles faziam isso e aquilo. Era excitante.”

De volta ao assunto Kasabian, contudo, e o lado sônico que começava a tomar forma, como Serge explicou ao lendário jornalista irlandês, Hannah Hamilton. “DJ Shadow abriu muitas portas para nós,” ele sorriu. “Então encontramos o selo Warp (Aphex Twins, Boards of Canada, Squarepusher, Nightmares On Wax). Tudo a partir daí, mesmo se você não gostasse, lhe dava ideias. Acho que tudo que a electronica {termo utilizado para incluir uma ampla gama de estilos contemporâneos da música eletrônica projetada para uma ampla variedade de usos} sempre precisou era um pouco de alma, um pouco de crueza. E nos dias atuais falta imaginação no rock’n’roll, então ser capaz de juntar os dois gêneros é bastante interessante.”

E agora, mais do que nunca, o grupo abria suas asas para começar a fazer exatamente isto. Apesar de, ou possivelmente por causa de, o fato de que eles estavam sem baterista no momento em que a seguinte sessão no estúdio Bink Bonk foi marcada, o foco musical foi absolutamente mais interessante. Uma nova música em especial foi absolutamente fundamental na carreira do grupo, e ela é uma música sem a qual este livro acabaria aqui. Página 37