Sound, Movement & Empire: Página 39 e 40

Saracuse partiu de repente para Bristol para uma sessão muito rápida em Bink Bonk, sob o olhar atento do produtor Mat Sampson, bem conhecido no cenário de Bristol (e redondezas) por seu conhecimento de equipamento, e também por ter muitos contatos dentro da cena ao vivo da área. Durante breves horas de gravação, Saracuse também ia se encontrar com um baterista chamado Ian Matthews, que era extremamente bem conhecido e respeitado na cena do jazz e trip-hop {também chamada de “música de Bristol” – música eletrônica lenta, marcada por batidas desaceleradas e uso de instrumentos convencionais e acústicos}. Ele também foi membro em tempo integral da banda de trip-hop Ilya, assinado pela Virgin {Records}, que ficaria imensamente contente com a fixação de Tom Meighan por ‘trip-pop’. Porém, por enquanto, o quarteto efetivamente sem baterista estava mais interessado em formular as suas músicas constantemente-aperfeiçoadas. Havia outra versão de ‘Rain On My Soul’, bem como uma nova canção que, posteriormente, passou a ser chamada de ‘Beneficial Herbs’. No entanto, mais notavelmente havia uma faixa com ritmo-base que não foi, excepcionalmente, baseada em torno do ritmo e timbre do violão, mas era bastante dependente de uma paisagem sonora sequenciada, atmosférica. Isso poderia ter vindo, de fato, a partir de momentos mais sombrios do Stone Roses como a sessão de Second Coming ou de Happy Mondays, embora apresentasse alguns barulhos estranhos e samples que esses meninos de Manchester nunca teriam aprovado. Contudo a bateria foi gravada ao vivo, a música, mesmo nesta forma de protótipo, realizada dentro de uma enorme quantidade de promessa quanto ao que viria a se tornar.

O título desse ritmo hiperespacial?
‘Processed Beats’. Página 39

Esta canção central é um salto estilo Galaxian {um típico jogo de tiro lançado pela Namco em 1979. Nele você é uma nave que tem que atirar em um exército de aliens da esquerda para direita, e quando terminava vinha outro exército mais desafiador} dos dias sob influência do Stereophonics, e Ben Cole estava colocando as mãos em um material genuinamente fascinante da “banda interessante” que o tinha intrigado antes, há aproximadamente dois anos.

“Eu pedia a Chris Karloff uma demo há tempos,” ele diz, “porque eu tinha visto eles tocarem duas vezes e achei realmente bom. Eu pedia uma demo há muito, muito, tempo. Ele dizia, ‘não estivemos em estúdio, não fizemos isto, não fizemos aquilo’, até que um dia [eventualmente] ele disse, ‘estamos em Bristol’ [gravando uma].”

 Mais tarde naquele ano, num domingo fatídico perto do Natal de 2001, relembra Cole, Karloff veio para deixar os resultados em um CD. Cole, tendo abusado na noite anterior, estava na cama e decidiu finalmente escutar como a banda do irmão de seu amigo soava com algum material sequenciado – e, naturalmente, o infame Omnichord – para tocar.

“Me lembro de pôr a demo para tocar – a casa era uma das Gas Houses que são famosas em Leicester, uma casa com três pavimentos. Tinha um enorme sistema de som no quarto no terceiro andar e eu estava deitado lá, estava bem cansado da noite de sábado. Coloquei a demo e a primeira faixa era ‘Processed Beats’ e lembro que me sentei e disse, em voz alta, ‘eu não esperava por isso’. Era incrível. ‘Rain On My Soul’ era boa e ‘Beneficial Herbs’ era incrível e pensei, ‘Essa é uma banda que vai longe porque eles são absolutamente incríveis.’”

Nessa mesma época, Neil Ridley tinha mudado de representante para olheiro da Sony BMG, um emprego que basicamente implica ir à muitos shows e acompanhar o progresso das melhores bandas da área, e em seguida informar as descobertas ao pessoal do A&R {Artistas e Repertório – divisão de uma gravadora responsável pela pesquisa de talentos e desenvolvimento artístico dos músicos. Atua igualmente como elo entre os artistas e a gravadora} na gravadora cujo emprego é levar em conta o conselho dos olheiros regionais quando passarem as informações aos seus chefes, que tomam a decisão de assinar um contrato com uma banda. É uma hierarquia simples no papel, mas na prática os papéis muitas vezes são obscurecidos. O próprio Ridley confiaria em parte nas dicas de seus contatos locais em revistas, dos promotores e de estúdios similares mas, fundamentalmente, o que ele necessita é de bons ouvidos para música, um pouco de paciência, e absolutamente muita paixão. Os olheiros regionais não são pagos na maioria das vezes, trabalhando não necessariamente para melhorar suas próprias carreiras, mas mais pra dar um empurrãozinho a artistas talentosos em sua própria jurisdição na indústria da música. É também verdade, naturalmente, que a recomendação de várias bandas de sucesso seguidas não será em detrimento da carreira de um olheiro de A&R, portanto a relação é essencialmente simbiótica. A indústria de música entra como uma parte do arranjo, às vezes com razão, mas na essência são esses olheiros, que desafiam chuva, vento, granizo e milhares de bandas ruins noite após noite, que são muitas vezes os primeiros a notarem os sussurros de diamante em meio aos grasnados, restos sonoros requentados. Página 40