Sound, Movement & Empire: Página 41, 42 e 43

E quando Neil Ridley finalmente pôs as mãos na demo, ele estava muito perplexo e correu para o escritório do seu chefe, David Field. “Eu pensei que era incrível”, lembra Cole. “Eu toquei isso para o chefe da A&R na época, e ele disse, ‘Uau, como você sabe sobre isso? Estamos planejando assinar com esses caras!’ E eu meio que acabei conseguindo um trabalho indiretamente com isso porque eu acho que eu meio que sabia deles, mas não era como se eu tivesse dado o contrato a eles ou ajudado eles a se desenvolverem porque eles já estavam há muito tempo nesse processo. Parecia uma coisa agradável para Leicester, que eu estava indo bem e a banda estava indo muito bem também.”

As coisas não eram tão diretas assim, entretanto, com as gravadoras tentando um estilo bastante diferente de aproximação no conceito de contratar bandas. Excepcionalmente, o diretor da A&R, Nick Raymonde, em tempos passados havia sido tanto um produtor de heavy metal, trabalhando em um selo de metal chamado Kamaflage – e foi fortemente responsável pela carreira do Take That antes de ser carregado para tornar-se parte do novo selo ‘legal’ de rock da Sony BMG. E a estrutura do selo, e a atmosfera subseqüente criada por uma pequena e vibrante equipe todos puxando na mesma direção, foi definitivamente benéfico para o sucesso subseqüente da Saracuse.

“Os olheiros basicamente trariam as coisas pra dentro”, explica o frequentemente hilário Raymonde. “A hierarquia lá era bastante simplória, de fato, ao mesmo tempo que eles me informariam, não havia realmente nenhuma distinção entre mim, [o presidente do A&R] Ged Doherty ou até mesmo uma pessoa das promoções ou marketing. Eles os trariam mas deixariam Ged ouvir o material ao mesmo tempo em que me deixariam ouvi-lo, então isso era bom e quando eu ia falar com Ged sobre alguma banda, ele já sabia sobre porque ouvia tudo que todo mundo tinha. Portanto, ele já estava ciente de muitos grupos naquela época, e era assim que funcionava. Haviam quatro ou cinco pessoas do A&R no mesmo nível que eu, onde você fazia gravações e assinava bandas, mas você ainda tinha que conseguir a aprovação de Ged e por fim você ainda tinha de ter um consenso dentro da gravadora que as pessoas realmente quisessem que você assinasse com a banda. Você não voava solo; você tinha de assegurar que os promotores e o pessoal do marketing tinham visto também.” Página 41

Para separar o joio do trigo, uma série de mostras das bandas eram organizadas com aproximadamente dez grupos, todos tendo a oportunidade de tocar para a equipe da gravadora e exibirem suas mercadorias. Esses tipos de eventos são bastante comuns na indústria da música, embora muitas vezes eles sejam realizados nos locais de ensaio da banda ou num estúdio de gravação. Mesmo os Beatles tiveram que fazê-lo, fazendo uma audição com George Martin que estava mais intrigado pelo humor deste bando do norte da Inglaterra do que enamorado pela música no momento, e todos sabemos o que aconteceu por lá.
Sem conhecimento de Ridley, um olheiro chamado Darren Dixon já tinha acionado a BMG sobre os meninos de Blaby (graças em parte ao empresário Alan Rawlings que falou para todo mundo sobre as demos de Bink Bonk), tanto que a Saracuse viajou para Putney para se estabelecer e encarar o que o futuro os reservasse.

“Fizemos algumas audições”, confirma Raymonde. “Nunca tínhamos feito isto antes, foi ideia de Ged Doherty. Eu tinha quatro olheiros trabalhando para mim e a ideia era que eles trariam todos os que eles ficassem interessados e considerassem se envolver no trabalho que eles quisessem assinar – colocar todos eles em uma sala de ensaio durante a semana e então Ged viria com quem quer que fosse da gravadora, daria uma olhada e veria se não poderíamos assinar pelo menos um daqueles.”
“Achei que era uma ideia realmente boa porque era sempre aquela mesma coisa onde os olheiros estavam constantemente assistindo bandas e constantemente os trazendo ao escritório, e isto foi tipo ‘Não, espera um minuto, vamos focar e dar continuidade. Não vamos ser idiotas e fazer o que todos os outros estão fazendo, vamos fazer algo diferente.’ Darren Dixon os trouxe [Saracuse] e mais ou menos três outros candidatos à mesa. Darren foi muito perspicaz. Onde todos os outros olheiros ficavam correndo em círculos, repentinamente Darren tinha um escritório. E era tipo ‘Como você fez isto?!’ e ele diria ‘Bem, tinha um escritório vazio…’ E logo ele era uma parte da equipe de A&R; ele era um cara muito, muito brilhante. A primeira vez que vimos a banda foi na sala de ensaio, Ritz em Putney.”

Quanto ao grupo por si mesmo, eles posteriormente admitiram que não tinham a aparência ideal, nem estavam muito organizados, para o que era ironicamente chamado de sua excursão à uma sala de ensaio. “Parecíamos uma chuva de merda”, disse Serge, “e tínhamos um MiniDisc como baterista”. Apesar da aparência, os meninos do sul de Leicestershire intrigaram a gravadora, como Nick Raymonde se lembra.

“Você não podia evitar de pensar que eles eram realmente bons. Não era parecido com nada, mas poderia ter sido. Lembro de Ged dizer, ‘Isto é claramente uma re-edição ou temos algo novo’. Então fizemos um acordo e os oferecemos uma semana depois disto.” Página 42

De fato, embora a BMG estivesse suficientemente impressionada para pôr seus contratos onde seus ouvidos estavam diretamente ligados, literalmente, uma contra-oferta de uma outra (e maior) gravadora foi, de fato, apresentada e com mais dinheiro inicial do que a BMG oferecia, mas na ocasião (e corretamente, também), Saracuse percebeu que, como indivíduos e como artistas, estavam muito mais interessados por Raymonde e seus colegas. A banda não foi puramente seduzida por um talão de cheques mais gordos, o que é uma maturidade precoce impressionante sendo mostrada.

“Você tem de atravessar este processo doloroso”, continua Nick Raymonde, “onde você não pode dizer tudo que quer, mas também tem que ser cauteloso sobre como você faz o acordo. Porque eu sempre tive em mente que para isso funcionar tudo tem de ser direito, você sabe, a banda tem que ter pessoas simpáticas, pessoas com quem você gostaria de sair de férias; o empresário tem que ser uma pessoa realmente boa; o pessoal do marketing tem que entender de verdade qual é a sua visão, e ter a sua própria visão também; os promotores tem que pensar que eles tem uma possibilidade significante de ter uma parte nisso tudo – e todo mundo tinha. Portanto, acho que por essa perspectiva, Ged foi muito intuitivo porque ele não faria nada às cegas – ele se valeria da opinião de todo mundo da gravadora sobre o grupo. Assim, quando o grupo assinasse não seria um mérito individual, seria ‘NÓS assinamos com a Saracuse [coletivamente]’.”

E então aconteceu que depois de ligações perdidas e incerteza, o acordo, de fato, foi feito para o alívio de todos os envolvidos. A Saracuse, agora sob nova direção (mais especificamente, o experiente Graeme Lowe da 3M Management, que também cuidava do Black Rebel Motorcycle Club), assinou com a gravadora que já era lar dos companheiros de eletrônico/rock/fusão experimental, Cooper Temple Clause de Reading. Essa banda é bastante importante também. Página 43

______

Título do capítulo: Possível referência à camiseta criada e usada pela banda Pop Will Eat Itself (PWEI), com alusão ao logo da Pepsi com a frase ‘Sample it, Loop it, Fuck it And Eat It.’