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Matéria: Q Magazine (Setembro 2013) + Tradução em duas partes

Em uma tarde no meio do verão de maré alta, a visão das janelas que vão do chão ao teto do camarim do Kasabian no The Spa, em Bridlington, é como estar na praia. Aqui, com vista do mar do norte de East Yorkshire, a ilusão ótica faz o guitarrista Serge Pizzorno “sentir-se como estivesse na P&O Ferry.* (Companhia de cruzeiros.) Para o seu melhor amigo e companheiro de banda, Tom Meighan, isso se torna irresistível. “Uma baleia!” grita Meighan. “Lá! Lá!” ele diz delirante, olhos arregalados, apontando pelo vidro. “Eu juro que vi uma baleia apontar seu nariz.” Agora Pizzorno e os seus colegas de banda estão ao seu lado procurando por outra aparição da Moby Dick de Meighan. Mas tudo que eles veem é um azul interminável e abaixo deles uma enseada de jovens frenéticos, porque estão olhando para o Kasabian: A banda favorita do Liam Gallagher, que ano passado esteve como atração principal no Reading e Leeds Festival, mas que hoje a noite veio parar nessa cidadezinha a beira mar.

Em três dias, Kasabian será a primeira banda das atrações principais do London’s Queen Elizabeth Olympic Park, desde que recepcionaram o inesquecível Mobot e Jonnie Peacock no verão de 2012. Bridlington é o esquenta, e a multidão de 3800 pessoas, algo íntimo para o padrão do Kasabian – foi vendido em minutos. A histeria abaixo das janelas do camarim explica o porquê. Pizzorno olha para uns 6 meninos, por volta dos 15 anos, acenando furiosamente. Ele saúda os meninos, acenando com a cabeça, punho levantado, enquanto eles gritam descrentes. Antes de subir ao palco, Kasabian já viam seus fãs em frenesi. Meighan, enquanto isso, lembra de continuar na vigia com sua elusiva baleia. “Merda!” Ele diz de repente. “E se fosse um tubarão?”

Kasabian está mais velho, um pouco mais esperto e finalmente seguros nos principais headliners dos festivais de verão. Mas, por opinião deles mesmo, não mudaram muito nos nove anos desde a primeira vez que emergiram como os desajeitados de Leicester, prometidos como herdeiros do Oasis. “Eu continuo pensando que tenho 23 anos, quando conseguimos uma gravadora,” diz Meighan, com 32 anos. “Meu corpo mudou, minha vida mudou. Eu sou pai – isso é um baita milagre! Mas eu não mudei.” Como evidência, Meighan ainda assiste seu filme favorito, ‘E.T – O Extra Terrestre’, em uma assustadora frequência. “Não todo dia. Eu não sou um fanático.” Ele dá uma pausa. “Aliás, que monte de merda. É claro que eu sou um fanático. Eu sou louco.”

E quando está em turnê, seu paladar continua em forma por meio dos sabores favoritos de sopa Heinz e Pot Noodle* (Cup Noodles) “Nós temos uma má reputação por causa disso.” diz Pizzorno. “As pessoas pensam que somos idiotas de Neanderthal. Mas eu aposto que qualquer um que esteve em um festival na Hungria e olhou para um Goulash(Guisado de carne de vaca e carne de porco) que existe lá, não voltou correndo para o ônibus gritando por canja.”

Além de mais uns bebês em casa (Pizzorno e o baixista Chris Edwards, cada um sendo pai de dois, enquanto Meighan tem uma filha de um ano), a única diferença do Kasabian em 2013 é a falta do guitarrista Jay Mehler, que ano passado fez uma transferência amigável para os amigos da Beady Eye. Reposto por Tim Carter, engenheiro e convidado nos últimos dois álbuns, atualmente trabalhando em demos para o quinto, previsto para a próxima primavera. Escrevendo ainda, “a psicodelia futura e rodas punks”, Pizzorno ainda está no processo de peneirar 3.000 demos de voz, zunidos gravados em seu celular de quando a inspiração aparece. “É igual Keith Richards diz, ele tem uma antena e espera pelas transmissões. Eu andarei pelo supermercado e de repente vai surgir um “la – la – ing no telefone. Deixa a patroa louca.”

Pelos direitos, Kasabian devia tirar esse ano de férias, estando em turnê do quarto álbum lançado em 2011, Velociraptor!, pelos últimos 18 meses, da América até Austrália passando pelo México. Pizzorno contraiu um misterioso vírus no estômago durante o caminho, o que o deixou em quarentena por uma semana. “Foi obscuro cara,” ele diz com um calafrio. “Sem enfermeira, a não ser pelo meu manager deixando algumas uvas pra mim todo dia.” Mas como a última celebração animada antes deles começarem a gravar o novo álbum nesse outono, a oferta de abrir o evento no Olympic Park era muito histórica para recusar. Meighan e Pizzorno entram no espírito de praia do local, ajudando uns aos outros com sorvetes conforme admiram as paredes com posters das estrelas do Bridlington Spa: Freddie Starr, Danny La Rue, Stu “Ooh! I Could Crush A Grape!”* (Música de Stu Francis) e Michael Barrymore “Awight!”. Para o Kasabian, e para uma multidão tangível efervescente para vê-los, isso prova que o que vem pela frente é de fácil riso. O que era pra ser um mero show para esquentar, se transforma em um “inferno” de alegria.

Kasabian torna sua entrada com o tema de Grandstand e o caos que os recebem fica cada vez mais feroz conforme a noite cai. Três músicas tocadas, uma garota em um mosh tem uma convulsão. Meighan educadamente pede para a multidão para se acalmar enquanto os médicos a colocam em um lugar a salvo. Fim do drama, Meighan aplaude a paciência dos fãs. Um nano-segundo depois, uma euforia estranguladora se resume. Há jovens parecendo não ter mais de 10 anos, balançando nos ombros de seus pais. Se for a primeira vez que estão em um show de rock, então seria um batismo, quase literalmente por “Fire”, o bis que ficou entre algo como uma final de Copa do Mundo e um terremoto. Na nota final, Pizzorno se joga no chão em posição de “águia”, sua cara parece de um homem que acabou de fazer uma transfusão de sangue trocando o sangue tipo O por êxtase líquido.

“A única coisa que importa é a música.” O eufórico guitarrista estava radiante no backstage. “Isso foi o que dez anos de Rock n’ Roll me ensinou. As pessoas não ligam pra sua jaqueta de couro ou o seu cabelo, ou o jeito que entra em algum lugar, ou qualquer coisa assim. É a música. É tudo o que qualquer um se importa. Sair de um show onde estava tão conectado como hoje a noite, é o melhor sentimento do mundo. Imagina se pudesse engarrafar isso…”

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